sábado, 9 de maio de 2009

Alexis Zorbas (1964) - Michael Cacoyannis


Alexis Zorbas (1964) - Michael Cacoyannis


Segundo Nietzsche, dois princípios regem a existência humana: o princípio apolíneo – impulso luminoso, que pretende a pureza, a nobreza, a virtude, a beleza; o princípio dionisíaco – impulso caótico, desmedido, informe, que pretende o êxtase, a embriaguez e a alegria. Este último é a síntese do personagem Zorba, do brilhante filme de Michael Cacoyannis.
Alexis Zorbas é a personificação de Dioniso: não é uma figura centrada, de comportamento uniforme, mas sim um ser cujo objetivo último e primeiro é a própria vida, intensa e caoticamente. Zorba não é preconceituso. Mas sua experiência lhe fornece um grande entendimento sobre as mais diversas situações. Isto é mostrado sob a ótica do estranhamento: é a visão burguesa, européia, ocidental, personificada na figura do jovem inglês, co-protagonista do drama. O escritor britânico não compreende a vivacidade, a voracidade de Zorba, mas aos poucos, é cativado por ela. Nos momentos mais críticos o jovem começa a compreender o modo de vida do grego, o que, aos poucos, irá modificar sus própria vida.
O filme de Cacoyannis nos fornece uma bela lição: a vida é uma sucessão de tragédias e fracassos. Podemos encará-la negativamente, resignando-se e ressentindo-se, ou, como Zorba, podemos levantar a cabeça e dançar diante do trágico, sorrir e seguir a diante, esforçando-se para esquecer o passado.
Novamente, podemos analisar sob o ponto de vista nietzscheano: Zorba resume o espírito trágico dos gregos: a transformação do horror em beleza, em lirismo, em uma dança espiritual, que transcende o plano trágico humano.
Existe ainda uma discussão política presente no filme: a pobreza material e espiritual dos habitantes cretenses. É difícil compreender a crítica feita ao povo grego contemporâneo. A Grécia, há séculos, perdeu o status de centro cultural do mundo. Hoje se mantém como um terra esquecida, encrustrada entre o Ocidente e o Oriente, sem identidade – pelo menos do ponto de vista de nós, ocidentais. A pobreza do povo, sua religiosidade nefasta, a falta de vida, de perspectivas, sua voracidade pela observação da vida alheia, contribuem para as duas cenas mais chocantes do filme: o apedrajamento e execução da jovem viúva; o saque da casa de Boubolina após a sua morte. Nestas, a mesquinhez, o ressentimento, a vingança maculam a imagem daquele povo, transformando-os naquilo que Nietzsche chamaria de niilistas, pois detêm valores cristãos, reativos.
Bem, essas são apenas interpretações. Tire suas próprias ao ver essa obra-prima de Cacoyannis: uma tragédia grega para os homens contemporâneos, brilhantemente interpretada por Anthony Quinn, o que não pode deixar de ser dito.

Frase do filme: “Eu desprezo a dor dos homens.” Zorba.