terça-feira, 23 de março de 2010

Goya's Ghosts (2006) - Milos Forman



Goya's Ghosts (2006) - Milos Forman

Revolução Francesa, tempos de transformação. Fim do feudalismo, desequilíbrio da hegemonia católica, na França e na Europa.
Entretanto, seus resultados não foram tão satisfatórios quanto presumiram alguns filósofos iluministas: Voltaire, Diderot, Rousseau, Condorcet, vocês realmente acreditavam numa humanidade livre, igual e fraternal? O que difere um "esclarecido" de um bárbaro? A voracidade na hora de matar?
Napoleão, apesar de tudo, fez algumas coisas boas. Na Espanha, por exemplo, destituiu o poder da Inquisição. Desse modo, cafajestes perderam - por algum tempo - o poder de barbarizar vidas.
Vivemos hoje numa época esclarecida? Já não necessitamos nos submeter às doutrinas do catolicismo, mas nos submetemos a outros infinitos modos de ideologia. Parece que a iluminação falhou, trouxe a alienação, como previram, de certo modo, Adorno e Horkheimer.
Aliás, tais questões surgiram na minha mente, mas não são tratadas no filme com devida clareza. Ademais, não gosto como Milos Forman distorce as biografias das pessoas que relata. Me parece que em todos seus filmes há uma certa distorção do caráter dos personagens principais para que a trama se desenlace do modo mais conveniente.
Neste filme, por exemplo, Goya é apenas uma sombra do Goya histórico. O filme deveria se chamar A SOMBRA DE GOYA. O personagem está muito aquém da figura vívida e contestadora que fora o pintor. Goya era um apaixonado, um idealista, um romântico. Pintou algumas das maiores atrocidades da humanidade como protesto ao estado putrafato das coisas. No entanto, é retratado por Forman como um homem comedido até mesmo frio. Talvez porque não seja o protagonista e sim o coadjuvante: mais um erro, o filme que leva o nome do pintor NÃO É sobre o pintor. Estranho, não?
O protagonista: padre Lorenzo, interpretado pelo ótimo e mais "aparecido" ator espanhol do momento, Javier Bardem. Um padre que foge da igreja para ser um partidário da revolução. Incrível, não?
Outra aspecto negativo do filme: falado em inglês, quando se passa na Espanha do século XVIII. Odeio essas confusões idiomáticas, principalmente em filmes históricos. Enfim, de Hollywood não se pode esperar muito nesse sentido. Apesar disso tudo, é um filme forte, portador de grandes reflexões, principalmente sobre o papel da igreja e a ignomínia da Inquisição. As críticas também recaem sobre a revolução: antes manifestação popular transforma-se, mais uma vez, em manifestação de uma elite sanguinária, que frauda seus ideais através da liderança de um gênio doentio, Napoleão.

sábado, 6 de março de 2010

North by northwest (1959) – Alfred Hitchcock


North by northwest (1959) - Alfred Hitchcock


Alfred Hitchcock. O que dizer dessa figura tão singular? Um gordinho bonachão? O maior de todos os tempos? Um megalomaníaco? Bom, são muitas as teorias. Prefiro a afirmação de Bergman: "Hitchcock faz um cinema de preguiçoso".

E não é sobre a técnica, sobre as tomadas, sobre as invenções cinematográficas que Bergman disserta. Mas, sobretudo, sobre seus roteiros, sobre suas estórias.

A insolidez de Hitchcock não o faz um mestre da inteligência.... Seus mistérios são quase todos dissolvidos.. explicados à exaustão. Onde fica a inteligência do espectador?????????

Em alguns filmes sentimos alívio ao ver os mistérios de Hitchcock dissolvidos, por exemplo, Psicose ou Vertigo. Mas em "Intriga Internacional" (nome português da película), tudo acaba ficando meio enfadonho. Excesso de mistérios. Excesso de desenlaces. Quando você descobre qual que é a do filme já está de saco cheio..........

A sensação é a de que o diretor fanfarronea com a nossa cara....... E isto é cinema?

Pode ser.

Um filme pode ser escuro, monótono, ou silencioso como em Bergman. Pode ser engraçado ou inocente com em Chaplin. Ou engraçado e eloqüente como os de Woody Allen. Hitchcock queria criar seu estilo, mas não o fez sem fugir muito dos dogmas de Hollywood. Hitchcock é inovador? Sem dúvida. Principalmente em filmes como Psicose e Vertigo. Entretanto, a mesma fórmula pode se aplicar sempre? Acho que não.

Talvez, se sua pretensão não fosse atingir o público norte-americano, seus filmes fossem mais elaborados. O cinema é mais que uma história bem contada. Sair satisfeito do filme, dormir feliz com todas as respostas dadas pelo diretor, é demais, mas não é tudo. Não é o suficiente para ser considerado o maior cineasta de todos.

Enfim..


Sobre "Intriga Internacional":

Envolvente. Até que se esgota. Torna-se enfadonho. Acaba dando sono. Hitchcock fez melhores.