quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

About Schimdt - 2002 - Alexander Payne



About Schimidt (2002) - Alexander Payne


Solidão: a terrível constatação de que somos sós num mundo sem ordem ou sentido. Somos sós soa contraditório? Pois é a realidade.

Estar diante de si, apenas, sentir sua respiração tendo plena consciência de suas vontades mais primitivas é uma árdua condição. A vida é mais cômoda quando lidamos com os desejos de outrem: esquecemos nós mesmos, esquecemos a terrível constatação acima mencionada: eu existo.

No entanto, pode existir constatação ainda pior: a incapacidade para relações sociais. O que é pior? Se ver só? Ou tentar se relacionar com outrem e não conseguir, por egoísmo, por falta de jeito ou de sorte, enfim?

Estes são apenas alguns dos questionamentos suscitados por ABOUT SCHIMIDT. Dizer que Jack Nickolson está brilhante é um pleonasmo. Mas que se foda o portugês: Jack Nicholson está brilhante interprentando Schimidt, um homem de idade já avançada, que acaba de se aposentar. Após 30 anos num trabalho rotineiro e desimportante, que o mantinha entretido, é verdade, Schimidt resolve participar de um programa de caridade que dá assistência à crianças miseráveis na África. Anexado ao cheque de 22 dólares por mês envia cartas para seu afilhado africano narrando fatos marcantes de sua vida. Isto dá um tom bastante confessional ao filme, o que considero o maior trunfo do diretor, é a fonte emocional da película.

As cartas de Schimidt legitimam sua solidão: escrever é por essência um ato solitário: entre você e suas idéias existe um papel em branco e uma caneta (lápis), e de alguma forma, seu ser começa a solidifcar-se.

Schimidt se vê totalmente só quando a mulher, companheira de 30 anos, subitamente morre. O casamento duradouro, estável, porém entediante e monótono, termina de modo inesperado e Schimidt é arremessado diante de si, sem seu aval. Obviamente sem rumo, tenta intrometer-se na vida da filha, coisa que nunca fizera antes. Sua frustração é constrangedora e sai então em busca da paz. A redenção vem ao final, mas não darei pistas.... Assistam. Lindo filme!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Madadayo - Akira Kurosawa - 1993

Madadayo - Akira Kurosawa - 1993


A vida é uma sucessão de rituais. Pequenas rotinas, repetidas à exaustão enquanto duramos. Desde o café-da-manhã de cada dia, ao almoço e o jantar em família, arrumar a cama antes de dormir, beijar a esposa e os filhos, podem ser resumidos como pequenas compulsões diárias, tarefas que não cansamos de repetir, e nunca nos perguntamos o porquê. A vida só pode ser desse jeito?

Para os povos orientais, principalmente para os japoneses, estes rituais são mais importantes. Deixam de ser simples repetição, mas se configuram como verdadeiros imperativos: as coisas TÊM de ser desse modo. É por isso que suas tradições são milenares, tudo é repetido incessantemente com a mesma solenidade e importância. O mais interessante: tudo parece natural, não parece forçado. Ocorre sempre como se fosse a primeira vez.

Madadayo é um filme sobre rituais. Uma vida ritualística, para ser mais preciso. Um professor recém-aposentado, adorado, glorificado pelo seus ex-alunos. Uma vida simples, marcada pelos rituais.

Um filme moroso, é verdade, como a maioria dos filmes orientais sérios. Moroso para nós, ocidentais, impacientes com os instantes, com o tempo desperdiçado, com a vida que se esvai. Madadayo traz consigo uma importante lição: a calma, a paciência, o "ainda não" que nos falta.

Que fique claro: não estou defendendo a letargia ou o conformismo, defendo a importância