sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Die Welle (2007) - Denis Gansel


Die Welle (2007) - Denis Gansel

"Cada vez mais" vivemos num mundo onde os comportamentos são massificados, produzidos artificialmente, sem originalidade. Vivemos uma falsa sensação de liberdade. Educação, política, controle social, elementos que constituem conjuntamente uma realidade que sorrateiramente produz "individualidades". Até meados do século XX, cabia às instituições disciplinares (escola, fábrica, quartel, convento, prisão, hospício, etc...) esta tarefa. As "instituições de seqüestro", assim denominadas por Foucault, onde os indivíduos eram "amansados" e "modificados" pelas práticas disciplinares: um conjunto de estratégias, regras, rituais, que impunham ao indivíduo o que fazer, como fazer, quando fazer, em quanto tempo fazer.

Seguindo as pistas de Foucault e Deleuze, a filosofia da segunda metade do século XX mostra a decadência das práticas disciplinares, e um crescente "liberalismo" na sociedade, que dá a impressão de liberdade. Mas o controle social ainda existe, passou da disciplina à biopolítica e à sociedade de controle. Agora, nossas individualidades são erigidas pelos enunciados da ciência: "comer açúcar faz mal, fumar faz mal, fazer exercícios faz bem" e etc. Enunciados que atuam na psique e não sobre o corpo, e que se transformam em verdades absolutas, tornando-se parte do senso-comum social, o que faz com que o controle agora seja de todos.

A ausência da disciplina gera uma sensação de liberdade, embora hoje, o controle seja mais intenso: é feito por nós e pelos outros, não necessariamente tiranos, com um poder inqusitivo, sempre ordenando, como um professor na escola, um capitão no quartel, ou um médico num hospital psiquiátrico. O controle vem de fora para dentro, como um vírus. Uma vez instaurado, o próprio indivíduo encarrega-se de propag-lo.

Em "A Onda" há um choque de paradigmas.Os filhos da sociedade de controle, jovens alienados, livres e sem perspectivas, deparam-se com um curioso projeto escolar: estudar os regimes políticos autoritários, fundamentados, sobretudo pelas práticas disciplinares. O curioso e o motor da história é o método de ensino escolhido por Rainer, o professor que ministrará o curso: ao invés das famosas e entediantes aulas expositivas, transforma sua sala de aula num protótipo de regime político autoritário regido pelas práticas disciplinares. Assim, ele, a figura mais importante da aula, acaba por encarnar o ditador, o líder político, e os alunos, seus partidários, ou súditos, como queiram.

Questões relacionadas ao nazismo vêm à tona, demonstrando ainda a grande ferida no orgulho do povo alemão. Surge também a resistência, pessoas que não concordam com o imposto e querem desistir. São a minoria. A maioria aprova, adere e participa assiduamente do curso, contrariando o senso comum liberal a que estão inseridas. É como se a disciplina lhes fosse necessaria, mas só a disciplina, e sim o pertencimento a algo maior. Talvez seja este o grande trunfo dos regimes totalitário, o mesmo trunfo das religiões.

A experiência pedagógica levada ao extremo faz com que o grupo ganhe força e extrapole os limites da sala de aula. O Führer acaba perdendo o controle. Enfim... assistam.

De um modo ou de outro a experiência de Rainer remonta o estado social da Alemanha na década de 20. A falta de perspectivas, a anemia social, o vazio como epidemia formam condições ideais para o surgimento de regimes autoritários. "A Onda" talvez queira mostrar que apesar de narcisistas gostamos de obedecer a algo superior. Seja a Deus, seja a um ditador, seja a um enunciado da ciência, etc. Eis que vos pergunto: há uma propensão inata dos seres humanos a servirem outros seres humanos voluntariamente? Ou ainda: mentes vazias, falta de perspectivas futuras tornam os homens mais suscetíveis a acreditarem em conjuntos ideológicos?

Bem, as idéias têm força, muita força. Mas o que convence mais, uma idéia ou um afeto?

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