terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Estamira (2004) – Marcos Prado



Estamira (२००४) – Marcos Prado

A pobreza pode ser bela?
E a miséria humana, a degradação, a destituição daquilo que convencionamos chamar de ser humano, pode ter beleza? A loucura?
Estamira é um filme belo. Fotografia e tomadas expressam a beleza poética das imagens simples. O discurso de Estamira e a estética da desgraça humana se complementam divinamente. Entretanto: aonde vai o cinema nacional?
Por que sempre a pobreza, a miséria e a degradação em primeiro plano? Será essa nossa única fonte? Não se pode transcender, imaginar, criar algo para além disto?
Isto engendra um sério problema ético: será correto transformar a desgraça alheia em beleza? “Não é belo, é triste”, dizem uns... Sim, mas, no fundo, há algo de belo na tristeza. Somos filhos do Romantismo, não nos esqueçamos.
Transformar pobreza em arte mais do que despertar na sociedade qualquer tipo de preocupação com uma situação caótica, diviniza o artista, confere-lhe o título de intelectual, consagra-o, transforma-o naquele que pensa nos pobres e que os defende. Mas não nos esqueçamos: tudo é indústria e $$$.
De qualquer modo Estamira é um filme sincero, honesto, belíssimo, muito artístico. Quanto à Estamira, um ser humano, fora do eixo, é verdade. Entretanto, não deixemos de levar em conta suas escolhas. Estamira escolhe sim. Doentiamente, perturbadamente, é verdade, mas, “perturbações, distúrbios, todos temos”, diz Estamira. Cada um lida com isto de um modo diferente, de acordo com sua condição social, com a condição de sua sociedade, como vimos Estamira fazer. Ainda que alienada em sua realidade, Estamira teve a dignidade de desvencilhar-se de Deus. Boooaa, velhinha!
Frase do filme: “Você está com Deus enfiado no cu?”

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